Queimadas, poluição, doenças respiratórias e cardiovasculares
Os efeitos das mudanças climáticas podem ser intensificados, dependendo das características físicas e químicas dos poluentes atmosféricos e das propriedades climáticas, como temperatura, umidade e precipitação. Essa combinação de fatores define o tempo de residência na atmosfera dos poluentes, que podem ser transportados a longas distâncias; quando encontram altas temperaturas e baixa umidade, por exemplo. O Observatório tem demonstrado que essas impurezas associadas às condições climáticas podem agravar casos de doenças respiratórias e cardiovasculares.
A maioria dos estudos que relaciona níveis de poluição do ar com efeitos à saúde humana tem focado áreas metropolitanas, como as grandes capitais da Região Sudeste. Essas pesquisas ressaltam entre os poluentes mais prejudicais o material particulado, mistura de partículas em suspensão que em tamanhos diminutos pode atingir o trato respiratório, prejudicando as trocas gasosas (BRAGA, A. L. F., 2001). Assim fica mais clara a conclusão das análises: exposição ao material particulado aumenta a morbimortalidade1 por causas cardiovasculares e respiratórias.
Pesquisadores do Observatório de Clima e Saúde debruçaram o olhar sobre as queimadas na Amazônia brasileira, que representam cerca de 60% do material particulado emitido para a atmosfera no país. Essas substâncias contribuem para a alteração da composição química da atmosfera; ou seja, influenciam em escala mundial e favorecem uma nova configuração climática. Os estudos relativos aos efeitos da poluição na Amazônia sobre a saúde só tiveram início em 2005 com a intensa seca ocorrida na Amazônia ocidental.
A exposição da população a uma concentração elevada de poluentes na Amazônia brasileira ocorre por um período médio anual de três a cinco meses, associado a baixos índices de chuva. Nos centros urbanos, essa exposição é crônica, o que aumenta a incidência e a mortalidade por doenças respiratórias e cardiovasculares. As secas de 2005 e 2010 foram exemplos da vulnerabilidade da Amazônia brasileira às queimadas, com impactos diretos para a saúde, a economia e o ecossistema local. O uso e ocupação do solo na região continua sendo desordenado, com extensas áreas de desmatamento e prática indiscriminada de queimadas. Esse processo libera a maior parte do estoque de carbono para a atmosfera, com elevadas concentrações de poluentes, que são misturados e transportados para outras regiões do globo.