Diversas doenças e agravos

Segundo o IPCC (2007), os impactos à saúde decorrentes de eventos extremos podem ser divididos em imediatos, de médio prazo e longo prazo. Os impactos imediatos incluem mortes, afogamento, soterramento e ferimentos traumáticos. A médio prazo, podem ocorrer doenças devido à ingestão ou ao contato com água e alimentos contaminados (cólera, hepatite A, leptospirose), resultantes de superpopulação em condições inadequadas de habitação. Em longo prazo, após as enchentes, pode ocorrer o crescimento de fungos - que resultam em aumento de manifestações alérgicas -, depressão, fraturas devido ao processo de reconstrução, insegurança alimentar e falta d’água, em casos de secas extremas.

Entre as consequências, ainda podemos citar: diarreias e gastroenterites; doenças transmitidas por vetores; doenças de veiculação hídrica; desnutrição; estados de estresse pós-traumático; hipertensão; acidentes vasculares cerebrais; infecções respiratórias agudas e crônicas, alergias; intoxicações e envenenamentos; choques elétricos; quedas; descontinuidade temporária ou permanente de programas de acompanhamento de hipertensos, diabéticos e diálises; lesões; afetados, desalojados, deslocados, desabrigados e desaparecidos. 

Hepatite A

A hepatite A é uma doença viral aguda, de manifestações clínicas variadas, desde formas subclínicas1, oligossintomáticas2 e até fulminantes, o que ocorre em menos de 1% dos casos. A transmissão da doença é fecal-oral, por veiculação hídrica, de pessoa a pessoa ou por meio de alimentos, objetos e animais contaminados.

O clima e a hepatite A
Muito trabalhos relacionam a incidência de hepatite A às condições socioeconômicas e de saneamento. São poucos os estudo que evidenciaram o clima como fator determinante para incremento no número de casos. Alguns especialistas avaliaram a sazonalidade3 de seis doenças, entre elas, a hepatite A. Essa foi a única que não apresentou comportamento sazonal determinado. Provavelmente, as variáveis contextuais socioeconômicas e ambientais devem mediar a manifestação do agravo4 e variáveis climáticas podem agir de maneira indireta no comportamento das populações, o que pode provocar casos, dependendo do contexto no qual essa população está inserida.

Glossário

1- Subclínica - Diz-se do que não é detectável por intermédio de exame clínico de rotina, feito por meio de tato e procedimentos similares. Fonte: Dicionário Caldas Aulete. 
2- Oligossintomática - Sinônimo de: incaracterística, atípica, incomum, diferente, inusual, inabitual, anômala, invulgar, rara. Fonte: https://www.sinonimos.com.br/
3- Sazonalidade - Qualidade de sazonal, que é referente a uma estação ou época. Fonte: Dicionário Caldas Aulete.
4- Agravo - Aumento da intensidade ou gravidade de um mal, de doença ou sintoma. Fonte: Dicionário Caldas Aulete.

Fonte: Análise de Situação de Clima e Saúde - Módulos 1 e 2 

Leptospirose

Leptospirose é uma doença infecciosa febril de origem bacteriana que afeta seres humanos e animais. É causada por bactérias do gênero Leptospira. A infecção humana resulta da exposição direta ou indireta à urina de animais infectados. A penetração do microrganismo ocorre através da pele com a presença de lesões, da pele íntegra imersa por longos períodos em água contaminada ou por meio de mucosas. (Brasil, 2005).

Estimativas apontam maior incidência de leptospirose nos trópicos úmidos com taxas acima de dez casos por cem mil habitantes por ano, enquanto em países de climas temperados essa taxa varia entre 0,1 a 1 por cem mil habitantes por ano. No Brasil, a taxa média de incidência é de dois por cem mil habitantes.

Determinantes e condicionantes da leptospirose
Múltiplos fatores são responsáveis pela manifestação da leptospirose. É possível destacar o regime de chuvas, a temperatura e a topografia, além de fatores socioeconômicos, como condições de saneamento, nível de instrução da população e uso do solo. Ainda que ocorra quase em todo o mundo, os padrões de transmissão podem variar de acordo com as regiões nas quais se manifesta a doença. Os sistemas urbanos de saneamento e drenagem inadequados nas cidades configuram risco de adoecimento devido à inundação de áreas e exposição da população ao agente etiológico1. Vários autores descrevem as condições de habitação precárias e as falhas no sistema de coleta de lixo como causadores da enfermidade. Alguns trabalhos evidenciam fatores ambientais e relacionam condições socioeconômicas e de saneamento em áreas de favela a elevados gradientes2 de exposição.

 

Determinantes socioeconômicos
· Densidade demográfica
· Domicílios sem esgotamento sanitário
· Responsáveis pelo domicílio com pelo menos o ensino médio completo
· Responsáveis pelo domicílio que ganham menos de um salário mínimo por mês
· População residente em áreas de favela
· População residente em área de inundação
· Domicílios sem coleta de lixo sistemática

Determinantes ambientais
· Nível dos rios (cotas hidrológicas)
· Amostras de água com cloro fora do padrão
· Sistemas de abastecimento de água sem tratamento
· Sistemas de abastecimento de água com simples cloração (processo que consiste na adição de cloro à água, para torná-la pura ou adequada para o consumo)
· Áreas inundáveis
· Áreas de acúmulo de lixo
· Áreas com proliferação de roedores

O clima e a leptospirose
Em situações de desastres naturais ou eventos climáticos extremos são comuns surtos aparentes de casos de leptospirose. A chuva e a insuficiência de drenagem associadas a serviços inadequados de coleta de lixo e esgotamento sanitário configuram cenários propícios para a manifestação da doença. 

Com a alteração da variabilidade climática e o aumento na frequência de eventos climáticos extremos, áreas populosas podem estar cada vez mais vulneráveis ao incremento no número de notificações, sobretudo, em situações de chuvas mais intensas e com o possível aparecimento de casos mais graves. Os fenômenos El Niño e La Niña também configuram importante elemento a ser analisado na relação entre chuva e leptospirose, uma vez que provocam consideráveis e conhecidas alterações na distribuição e na quantidade de precipitações.

Glossário

1- Mucosa - 1. Anat. Membrana interna de vários órgãos, que se mantém úmida graças ao muco que existe dentro dela. Fonte: Dicionário Caldas Aulete.
2- Topografia - Descrição exata e minuciosa de um lugar. Fonte: Dicionário Priberam.
3- Agente etiológico - Etiológico - Ref. a etiologia, que estuda a causa de algo: Os fatores etiológicos da gripe. Fonte: Dicionário Caldas Aulete.
4- Gradiente - 1. Fís. Medida de variação de certa característica de um meio (pressão, temperatura, umidade etc.) em função de um intervalo de variação de uma outra característica (altitude, distância etc.). Fonte: Dicionário Caldas Aulete. 

Fonte: Análise de Situação de Clima e Saúde - Módulos 1 e 2 
Leia o artigo Efeitos da escala geográfica na análise dos determinantes da leptospirose

Mapa do Brasil com apenas os estados do norte
Tendências de problemas ambientais e de saúde