Acidente vascular cerebral (AVC)

O acidente vascular cerebral (AVC) caracteriza-se pela instalação de um déficit neurológico focal, repentino e não convulsivo induzido por uma lesão secundária vascular e não traumática no tecido nervoso, sendo causado por uma obstrução/isquemia ou hemorragia cerebral. 

Além dos fatores de risco tidos como clássicos, o AVC também foi associado a fatores ambientais, como poluição do ar e eventos climáticos extremos. Em relação à poluição atmosférica, os efeitos dessa exposição foram associados ao aumento do número de internações hospitalares. Da mesma forma, o aumento de internações por essa causa foi associado a temperaturas extremas e também a eventos pós-traumáticos como os desastres naturais.

Influência do clima no comportamento dos acidentes cerebrovasculares

O aumento da temperatura é, talvez, o efeito mais característico das mudanças climáticas. As ondas de calor, especificamente, afetam os sistemas cardiovasculares e cerebrovasculares1 - a exposição em longo prazo a altas temperaturas diminui a capacidade do corpo de ter uma temperatura constante, levando à insolação, síncope e exaustão ao calor. Estudos mostram que os indicadores de morbidade2 e mortalidade por doenças cardiovasculares e cerebrovasculares aumentam com a elevação da temperatura. Em eventos como as ondas de calor, ocorre o dobro de casos de AVC em relação às demais doenças cardiovasculares.
 

Glossário
1- Cerebrovascular - 1. Anat. Ref. ou pertencente ao cérebro e aos vasos sanguineos que o irrigam (distúrbio cerebrovascular; cirurgia cerebrovascular). Fonte: Dicionário Caldas Aulete.
1- Morbidade - Relação entre o número de casos de enfermidade e o número de habitantes em dado lugar e momento, ou relação entre sãos e doentes. Fonte: Dicionário Priberam.

Fonte: Análise de Situação de Clima e Saúde - Módulos 1 e 2

Asma

A asma, também conhecida como bronquite alérgica ou bronquite asmática, afeta aproximadamente 235 milhões de pessoas no mundo, incluindo adultos e crianças. Esse número tem aumentado nas últimas três décadas, tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento. Essa enfermidade é a doença crônica mais comum em crianças, caracterizada pela inflamação e o estreitamento dos brônquios (canais que levam o ar que inspiramos até os pulmões), condições que acarretam falta de ar pela dificuldade de sua circulação. As causas da asma envolvem múltiplos aspectos, que apontam para a interação entre fatores ambientais e genéticos, embora não seja muito conhecido o relacionamento entre esses agentes. 

O aumento da prevalência global da asma ainda não foi vinculado a nenhum fator específico. Assim, mudanças em aspectos como predisposição genética, exposição a agentes ambientais que causam alergia (alérgenos), poluição do ar, fatores alimentares e reações imunológicas fora do padrão desenvolvem a asma. No contexto das mudanças climáticas, a duração e a frequência da exposição a agentes alérgenos e irritantes podem ser fatores cruciais que levam ao desenvolvimento da doença. Com isso, infecções virais precoces e a exposição passiva à fumaça de cigarros e a poluentes atmosféricos podem estar associados ao desenvolvimento de asma em crianças.

Determinantes e condicionantes da asma

O estudo dos fatores de risco associados à asma envolve uma interação complexa influenciada por características genéticas, ambientais, socioeconômicas, entre outras. Diferentes estudos mostram que a exposição a determinados fatores no período pré-natal e início da infância são determinantes na incidência da asma, como tabagismo materno na gravidez, parto cesáreo, prematuridade, história de pais asmáticos, exposição a poluentes atmosféricos, infecção materna, obesidade e estresse.

Determinantes sociodemográficos e fatores de risco

- População infantil (menor de cinco anos)
-  Acesso a serviços de saúde durante pré-natal
- Infecção materna
-  Estresse 
- Obesidade
- Prematuridade e fatores genéticos

Determinantes Ambientais
- Temperatura
- Chuva e umidade
- Poluição atmosférica
- Exposição ao tabagismo
- Poeira e pelos de animais
- Pólens e fungos 

Influência do clima no comportamento da asma

A contribuição dos poluentes como fator de risco para a prevalência e incidência de asma tem sido demonstrada recentemente. Em um cenário de aquecimento, com elevação da temperatura e, consequentemente, piora da qualidade do ar, a tendência é o aumento de doenças respiratórias e da piora das crises de asma.

Em áreas urbanas, alguns efeitos da exposição a poluentes atmosféricos são potencializados, quando ocorrem alterações climáticas, principalmente as inversões térmicas. Isto se verifica em relação a asma, alergias, infecções bronco-pulmonares e infecções das vias aéreas superiores (sinusite), principalmente, nos grupos mais vulneráveis, que incluem as crianças menores de cinco anos e indivíduos maiores de 65 anos de idade.

Outros impactos poderão ser observados nos próximos anos, como as mudanças na distribuição de agentes que causam alergia. Com o aumento do CO2 na atmosfera, verifica-se também um aumento da sincronização na liberação de pólen de plantas, promovendo o crescimento e a formação de esporos de alguns fungos no solo. Em invernos mais quentes, a estação de pólen de grama ou de outras plantas pode ser antecipada, aumentando sua concentração na atmosfera. Essa característica pode aumentar a incidência de rinite alérgica e asma, além da intensidade e duração de sintomas. Em algumas partes do mundo, o problema também tem se agravado devido ao aumento da temperatura. Importante ressaltar que as partículas provenientes de diesel são agravantes, pois transportam esses alérgenos1 para os pulmões, intensificando a carga dessa doença em grandes centros urbanos.

Glossário

1- Alérgeno - Agente que causa alergia. Fonte: Dicionário Caldas Aulete.

Fonte: Análise de Situação de Clima e Saúde - Módulos 1 e 2 

Doença pulmonar obstrutiva crônica

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma doença caracterizada pela limitação crônica do fluxo aéreo em razão de alterações fisiopatológicas1 nos tecidos pulmonares. Essa obstrução do fluxo aéreo é geralmente progressiva e está associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões à inalação de partículas ou gases tóxicos. Estima-se que a DPOC afeta mais de 200 milhões de pessoas, sendo que 65 milhões sofrem das condições moderada a grave, e cerca de três milhões morrem por ano, tornando–se a terceira causa de morte em nível mundial; e os números estão aumentando a cada ano.

Influência do clima no comportamento da doença pulmonar obstrutiva crônica
As mudanças nos parâmetros meteorológicos aumentam substancialmente a morbidade2 e a mortalidade respiratória em pacientes adultos e idosos com doenças pulmonares crônicas comuns, como a DPOC. Durante eventos extremos, como as ondas de calor, as pessoas com doenças pulmonares obstrutivas podem até morrer algumas semanas antes do esperado. Por outro lado, em eventos de extremo frio, há um aumento de infecções respiratórias, especialmente, em pacientes com DPOC.

Glossário
1- Fisiopatológicas - Referentes à Fisiopatologia, que é o estudo dos fenômenos que provocam alterações no organismo, com a finalidade de descobrir os processos de formação das doenças e desvendar suas origens. Fonte: Dicionário Caldas Aulete. 
2- Morbidade - Relação entre o número de casos de enfermidade e o número de habitantes em dado lugar e momento, ou relação entre sãos e doentes. Fonte: Dicionário Priberam. 

Fonte: Análise de Situação de Clima e Saúde - Módulos 1 e 2 


 

Doenças cardiovasculares associadas às mudanças climáticas

Futuras projeções da mortalidade associadas ao aumento da temperatura mostram que esse é um dos impactos mais prováveis no setor de saúde. O aumento da mortalidade deve ocorrer tanto pelo aumento nas temperaturas médias sazonais1 quanto no aumento da frequência e intensidade de eventos de ondas de calor.

Os efeitos de temperaturas altas ou baixas na saúde humana são bem conhecidos e atuam como componente importante sobre o sistema cardiovascular. Provavelmente, o aquecimento global reduzirá a mortalidade por doenças cardiovasculares no inverno, mas a adaptação fisiológica ao aumento das temperaturas afetará muito esse benefício em razão dos impactos causados pelo calor extremo. Em geral, o aumento do risco de doenças cardiovasculares pode ocorrer por diferentes vias, entre as quais, destacam-se os efeitos diretos das condições extremas da temperatura ou indiretamente pela exposição a poluentes atmosféricos.

Glossário
1- Sazonal - 1. Ref. a uma estação ou época (fenômeno sazonal); estacional. Fonte: Dicionário Caldas Aulete.

Fonte: Análise de Situação de Clima e Saúde - Módulos 1 e 2 
 

Hipertensão

A pressão arterial refere-se à força que o sangue faz contra as paredes das artérias para conseguir circular por todo o corpo. Geralmente, os valores da pressão arterial caem quando dormimos ou estamos relaxados e sobe com atividade física, agitação, estresse. Além de fatores de risco tidos como "clássicos", as evidências científicas vêm apontando para a influência de diversos fatores ambientais sobre a hipertensão e demais causas cardiovasculares associadas a essa doença. Em razão das condições de vulnerabilidade biológica, os indivíduos hipertensos são propensos a apresentarem alterações cardiovasculares relacionadas ao aumento de poluição atmosférica durante eventos de ondas de calor e ao fenômeno de salinização, todos associados às mudanças climáticas.

Influência do clima no comportamento da hipertensão

Embora os estudos tenham explorado os efeitos agudos da temperatura na pressão arterial (PA), poucas foram as pesquisas que analisaram as mudanças longitudinais1 da PA em relação às flutuações climáticas. Olhando sob a perspectiva das mudanças climáticas, em longo prazo, o aumento de condições extremas como as ondas de calor poderia aumentar a mortalidade em indivíduos hipertensos, especialmente na população idosa. Indiretamente, o risco de morbimortalidade2 frente às mudanças climáticas na população hipertensa também poderia acentuar-se com o aumento das concentrações de poluentes atmosféricos e devido ao processo de salinização.

Glossário
1- Longitudinal - 3. Anat. Que está dirigido no sentido do comprimento ou do eixo principal de um órgão, de um corpo ou de uma parte de algum corpo. Fonte: Dicionário Caldas Aulete.
2- Morbimortalidade - 1. Relação entre o número de casos de enfermidade ou de morte e o número de habitantes em dado lugar e momento. Fonte: Dicionário Priberam. 

Fonte: Análise de Situação de Clima e Saúde - Módulos 1 e 2 

Infarto agudo do miocárdio (IAM)

O infarto agudo do miocárdio (IAM), também conhecido como ataque cardíaco ou apenas infarto, é a condição patológica emergencial resultante da deficiência de irrigação sanguínea em determinadas áreas do tecido muscular do coração. A iminente falta de sangue ou isquemia1 provoca dor intensa e imediata e a falta de oxigênio causa a morte gradual dos tecidos que depois de algumas horas pode se tornar irreversível.

Influência do clima no comportamento do infarto agudo do miocárdio

Entre os diferentes parâmetros meteorológicos, as variações de temperatura têm sido relacionadas à incidência de infarto agudo do miocárdio. Não apenas a temperatura extrema (frio e calor), mas também a variabilidade na temperatura pode desencadear a doença. Em geral, os registros de morte relacionados à temperatura demonstraram ser muito mais atribuíveis ao inverno, quando comparados ao clima quente. Em razão da relação inversa entre temperatura e infarto agudo do miocárdio, com o aumento da temperatura poderia ocorrer uma redução nos dias frios e, consequentemente, uma queda na incidência dessa doença. Por outro lado, o aumento esperado de dias extremamente quentes poderia refletir em um incremento de mortes e internações por IAM.

Glossário
1- Isquemia - 1. Med. Insuficiência de irrigação sanguinea devida a obstrução arterial ou vasoconstrição (isquemia cerebral). Fonte: Dicionário Caldas Aulete

Fonte: Análise de Situação de Clima e Saúde - Módulos 1 e 2 

 

Infecção respiratória aguda (IRA)

As infecções respiratórias agudas (IRAs) constituem uma síndrome clínica cujos agentes infecciosos mais comuns são vírus respiratórios e bactérias, como Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenza. São particularmente vulneráveis as crianças, os idosos e populações socialmente menos favorecidas de países em desenvolvimento e minorias étnicas. As infecções respiratórias de etiologia1 viral são conhecidas, popularmente, por viroses e apresentam quadro de manifestações clínicas menos graves. Ocorrem durante o inverno e, uma vez apresentando os sintomas, há uma regressão espontânea desse quadro dentro de cinco a sete dias. Coriza, obstrução nasal, tosse, febre e dores de garganta, ouvido e cabeça costumam ser os principais sintomas.

O clima e as IRAs

No que se referem a sua distribuição, as IRAs podem ser influenciadas pela sazonalidade2 climática, principalmente, quando se relacionam com algumas variáveis meteorológicas, tais como a temperatura ambiente, a umidade relativa do ar e as chuvas. As mudanças bruscas do clima pioram a qualidade do ar respirado, principalmente, durante o inverno em que a massa de ar frio dificulta a dispersão de poluentes em grandes cidades, havendo o aumento significativo de casos de pneumonia, asma e bronquiolite.

Glossário

1- Etiologia -  Med. Estudo ou pesquisa das causas das doenças. Fonte: Dicionário Caldas Aulete.

Fonte: Análise de Situação de Clima e Saúde - Módulos 1 e 2
 

Influenza

A influenza ou gripe é uma infecção viral aguda do sistema respiratório, de elevada transmissibilidade e distribuição global. Um indivíduo pode contraí-la várias vezes ao longo da vida e, em geral, tem evolução autolimitada. Contudo, de acordo com a diversidade antigênica1 de seu agente etiológico2, essa doença pode se apresentar de forma mais ou menos grave.

Influência do clima no comportamento da influenza

O aquecimento do planeta certamente deve provocar alteração no comportamento migratório de aves, o que pode provocar a disseminação de agentes patogênicos3, aceleração na mutação genética e, consequentemente, contágio em populações vulneráveis. Considerando apenas o contexto do aquecimento global, estudos apontam que a mortalidade no inverno em áreas mais frias deve diminuir e problemas em períodos de verão devem se acentuar. Entretanto, o aquecimento global deve provocar eventos climáticos extremos em maior frequência e intensidade, como ondas de frio mais intensas e, consequentemente, o adoecimento de populações mais vulneráveis, como em episódios ocorridos em 2012 na Europa. 

Glossário
1- Antigênica - Relativa a antígeno, que é uma substância que provoca a formação de um anticorpo específico. Fonte: Dicionário Priberam.
2- Etiológico - 1. Ref. a etiologia; que estuda a causa de algo: Os fatores etiológicos da gripe. Fonte: Dicionário Caldas Aulete. 
3- Patogênico - 2. Que causa ou é capaz de causar doenças. Fonte: Dicionário Caldas Aulete. 

Fonte: Análise de Situação de Clima e Saúde - Módulos 1 e 2

Mapa do Brasil com apenas os estados do norte
Tendências de problemas ambientais e de saúde