Nota técnica analisa os impactos das queimadas na Amazônia e no Pantanal

Profissionais do Ministério da Saúde (MS), da Vigilância em Saúde Ambiental (VSA) e da Fiocruz constatam altos índices de internações e aumento de focos de incêndio

Por Assessoria de Comunicação do Icict da Fiocruz, 13/04/2023

Foto Queimada na região norte | Observatório Clima e Saúde/LIS/Icict/Fiocruz

Um curso criado com o objetivo subsidiar as análises dos efeitos das queimadas e incêndios Florestais na Amazônia e Pantanal, sob o ângulo da saúde, levou profissionais de Vigilância em Saúde Ambiental (VSA), dos estados da Amazônia Legal e do Bioma Pantanal, assim como colaboradores do Ministério da Saúde (MS) e da Fiocruz, a elaborarem uma nota técnica sobre o tema, que traz informações relevantes como o número de focos de incêndio associados às internações por doenças respiratórias nas duas regiões, durante 2020.  

A nota técnica “Impacto das queimadas e incêndios florestais na saúde da população da Amazônia Legal e Pantanal em 2020” foi um esforço coletivo dos participantes, que realizaram estudos, com base em dados dos seus estados de origem, sobre a relação entre as queimadas, a poluição atmosférica e doenças respiratórias. Esses estudos indicam situações diferentes em cada estado, subsidiando políticas de controle, além de constituir um resultado importante para a capacitação de pessoal em vigilância em saúde e contribuir para a construção de redes de discussão e apoio de técnicas de Análise de Situação Saúde-ASISA com técnicas de análise espacial e geoprocessamento nas Secretarias Estaduais de Saúde-SES e facilitar as discussões e contribuições entre as secretarias e com a equipe da CGVAM/MS.  

Durante o curso “Análise de Situação de Saúde Ambiental – ASISA/Queimadas e Incêndios Florestais", promovido pelo Ministério da Saúde, a Organização Panamericana de Saúde (Opas) e pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fundação Oswaldo Cruz, os participantes relacionaram dados georreferenciais de incêndios nas regiões com as internações hospitalares por doenças respiratórias como asma, DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), entre outras. 

Imagem de alunos e professores na abertura do curso “Análise de Situação de Saúde Ambiental – ASISA/Queimadas e Incêndios Florestais" | Renata Gracie (arquivo pessoal)
 
Alguns números 

A análise foi feita por estados, onde em cada região – Amazônia Legal (Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Pará, Maranhão, Amapá) e o Bioma Pantanal ((Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), destacam-se cidades com altos índices de internações e o aumento dos focos de incêndio.  

É interessante observar que nem sempre o município onde ocorre a queimada, é o que tem o aumento dos casos de internação, em especial de crianças até cinco anos e idosos. O vento pode levar a fumaça para os municípios vizinhos, que passam a sofrer muito mais com os seus efeitos.  

No Amazonas em 2020, houve uma concentração dos focos de incêndio na região sul do estado (5.602 focos; em 2019 foram 5.420), em municípios com divisa com os estados do Mato Grosso e Rondônia e  também em áreas centrais do estado ( total de 126.476 focos; sendo que em 2019, haviam sido 92.570 focos de incêndio). Ocorreram internações nas cidades de Uarini (18 crianças e 108 idosos); Alvarães (21 crianças e 3 idosos); e em Tefé (110 crianças e 70 idosos).  

Já no Acre, temos 19.750 focos de incêndio (contra 14.712 de 2019)  e os municípios mais afetados foram Basiléia (28 crianças, 44 idosos), Xapuri (19 crianças e 42 idosos); Epitaciolândia (14 crianças e 29 idosos); Sena Madureira (24 crianças e 49 idosos) e Tarauacá (60 crianças e 49 idosos). Todos ficam próximas às áreas de queimadas. 

No Pantanal, o destaque é o estado do Mato Grosso, onde a densidade mais alta ou muito alta de focos de incêndio florestais e queimadas, entre 2019 e 2020, concentraram-se nas regiões norte (em 19 cidades), nordeste (15 cidades) e centro sul do Mato Grosso (5), ficando em alguns exemplos. Chamam a atenção municípios com alto número de focos de incêndio e de internações, como aponta a tabela abaixo:

Um novo olhar 

Os estudos realizados pelos profissionais deixaram visível também a redução das internações, por conta da pandemia, em 2020. Segundo a nota técnica: “ficou evidente que o impacto provocado pela pandemia da Covid-19 influenciou nos dados e mesmo observando o aumento expressivo na ocorrência de queimadas durante o período de análise, os serviços de saúde tiveram dificuldades, seja na captura da informação, seja no tratamento de agravos relacionados às queimadas, durante o processo epidêmico.” 

Para Renata Gracie, coordenadora do curso e do estudo, a iniciativa trouxe um diferencial: "a importância do estudo está no olhar que os trabalhadores da Vigilância em Saúde Ambiental trouxeram para suas análises, muitas vezes levando questões que não eram contempladas pelos dados”.  Para ela, o curso proporcionou o aproveitamento das expertises dos alunos de forma prática: “a opção que fizemos por análises segundo os estados, nos possibilitou realizar o treinamento de técnicos estaduais de saúde, e também discutir mais sobre tema, observando as diferenciações nos estados com relação ao efeito das queimadas e incêndios florestais”. 

Gracie acrescenta ainda, chamando a atenção para as considerações finais da nota, que a “a realização do curso e a elaboração deste documento traz subsídios para que se avance em diferentes questões que serão abordadas no aperfeiçoamento de posteriores Notas Técnicas e turmas dos Cursos de Análise de Situação de Saúde em Queimadas e Incêndios Florestais – ASISA”. 

Leia a nota técnica


Arte: Jessica Muzy (Laboratório de Informação e Saúde)/Icict/Fiocruz