Por Isabella Motta (Ascom/Icict)
“Passamos pelo menos cinco anos tendo que iniciar nossas apresentações explicando que as mudanças climáticas, sim, existem”. A lembrança é da pesquisadora Renata Gracie, uma das integrantes do Observatório de Clima e Saúde, que completa 15 anos em 2024.
Ligado ao Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), o Observatório foi criado 2009 com o objetivo de reunir e analisar dados gerados por diferentes instituições a fim de relacionar as mudanças climáticas e ambientais com a saúde. As informações coletadas resultam em sistemas, mapas e gráficos, além de subsidiar o Observatório na publicação de livros, artigos científicos e notas técnicas e na elaboração de cursos e oficinas.
“Nossa ideia sempre foi ter representantes de várias áreas no Observatório, como pesquisadores, gestores e sociedade civil. O primeiro encontro serviu para que todos contassem o que faziam, para que pudéssemos começar a trabalhar de um ponto comum”, lembra Renata, que participa do projeto desde o início.
A iniciativa nasceu a partir do desenvolvimento de um sistema de qualidade de água, saneamento e doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado (DRSAI), com financiamento do Programa de Indução à Pesquisa e ao Desenvolvimento Tecnológico (PIPDT/Icict). A partir desta primeira iniciativa, o Ministério da Saúde solicitou a elaboração de outro sistema, desta vez voltado para mudanças climáticas. Àquela altura, a ideia de emergência climática parecia mais distante.
Em um primeiro momento ficou acordado entre os participantes que o Observatório utilizaria informações levantadas em todo o Brasil e fecharia as análises em quatro áreas de interesse, que se mantêm até hoje: água, ar, vetores e eventos extremos (desastres). As informações também teriam que ser públicas, com acesso irrestrito.
“Os dados do Observatório de Clima e Saúde não são apenas dados de saúde, são dados de interesse para a saúde, que ajudam a entender um contexto. Não produzimos dados, nós os transformamos em informação útil para o diagnóstico de uma situação de saúde, por exemplo, para avaliar contextos de leptospirose ou dengue”, explica Christovam Barcellos, pesquisador do Icict e coordenador do Observatório.
A trajetória do Observatório pode ser contada por meio de marcos: quando as primeiras informações foram depositadas no sistema; quando os pesquisadores conseguiram cruzar os dados e analisar as informações pela primeira vez e quando o projeto começou a oferecer cursos para capacitar outros pesquisadores a utilizar o sistema. O pesquisador Diego Xavier destaca, ainda, as parcerias internacionais, que “abriram um leque de oportunidades para o nosso trabalho”.
Ao longo dos anos, o Observatório se tornou referência na análise e disseminação de informações sobre os impactos das mudanças climáticas na saúde, colaborando para a elaboração de políticas públicas. “O observatório acumulou um vasto conhecimento e estudos detalhados sobre o aumento da incidência de doenças relacionadas ao clima, analisando os impactos da devastação ambiental sobre populações tradicionais e originárias, como povos indígenas, quilombolas, caiçaras e ribeirinhas.
Essa expertise é essencial para a compreensão dos riscos emergentes e para o desenvolvimento de estratégias de atenção, prevenção e promoção da saúde”, avalia o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz (VPAAPS/Fiocruz), Hermano Albuquerque de Castro. “Nos últimos 15 anos, o Observatório tem contribuído significativamente para o desenvolvimento de sistemas de vigilância para o monitoramento dos impactos das mudanças climáticas na saúde, com especial ênfase nas queimadas no Brasil, principalmente na região Amazônia legal e no centro-oeste. É necessário ressaltar, ainda, a importância na promoção da conscientização sobre a interconexão entre saúde e clima”, elogia.
Leia a notícia completa e entrevista com Renata Gracie, pesquisadora do Observatório de Clima e Saúde e coordenadora do Laboratório de Informação em Saúde, no site do ICICT.