A saúde no Semiárido

Por Patrícia Feitosa e Rafael Saldanha, pesquisadores

Uma das principais ameaças das mudanças climáticas no Semiárido brasileiro é o aumento da gravidade e da duração das secas. As secas podem afetar as condições de saúde de diversas maneiras, por meio da exposição e dos danos sobre as condições econômicas e sociais das populações. Os efeitos indiretos da seca, que são mediados pelos impactos no ambiente e na economia local, causam doenças infecciosas transmitidas pela água, alimentos e vetores1 e doenças respiratórias relacionadas à qualidade do ar. A longo prazo, pode aumentar a incidência de doenças não transmissíveis, como a desnutrição e o estresse mental. Tudo isso pode ser agravado pela estrutura socioeconômica e política inadequada da região do Semiárido. 

 

O Monitor de Saúde do Semiárido tem como objetivo rastrear e exibir a magnitude, ou seja, o grau de intensidade, e a extensão espacial da seca e seus impactos na saúde das populações do Semiárido brasileiro. O monitor permite avaliar informações sobre a seca e problemas de saúde na forma de gráficos e mapas. A partir de agora, você pode explorar esses dados para verificar uma determinada situação e para analisar tendências e eventos. 

Trabalho cooperativo conta com a participação da sociedade civil 

O Monitor de Saúde do Semiárido é um exemplo de trabalho cooperativo entre instituições de pesquisa (nacionais e internacionais), sociedade civil, Ministério da Saúde e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que fornece assistência oportuna aos tomadores de decisão diante de um potencial desastre natural. Este produto serve como uma ferramenta para ajudá-los a descrever a intensidade, a extensão espacial e os impactos potenciais da seca na saúde. Em última deliberação, as decisões de gerenciamento e aplicação devem ser feitas pelos usuários. A futura visibilidade e o uso do produto ilustram que o monitor está a caminho desse objetivo. 

Impactos da seca em ambientes, populações e saúde 

As mudanças ambientais globais, incluindo as mudanças climáticas e a variabilidade climática, estão trazendo novas ameaças e desafios para os sistemas ambientais e humanos (IPCC, 2014). Essas transformações causarão graves impactos sobre as condições climáticas e ambientais e, consequentemente, influenciarão as condições econômicas, sociais e de saúde das populações. Na região do Semiárido brasileiro, a maior vulnerabilidade associada às mudanças climáticas é a capacidade de resposta das localidades a eventos extremos de seca (CGEE, 2016; IPCC, 2014; UNISDR, 2015). A seca é considerada uma das piores ameaças de desastres de origem natural, mas, muitas vezes, é um fenômeno de eventos climáticos extremos negligenciado pelos desenvolvedores de produtos de avaliação e previsão de monitoramento ambiental e em saúde.  

Os impactos da seca sobre a saúde humana são diversos, ocorrem por meio de exposição (direta ou indireta) e por intermédio de danos sobre as condições econômicas e sociais das populações (MCMICHAEL, 2013; SMITH K. et al, 2014, SENA et al., 2014). 

•    Impactos diretos – decorrem dos eventos climáticos extremos de secas prolongadas e das doenças associadas ao calor extremo. Exemplo: mortes (MCMICHAEL, 2013; EBI, 2014; SMITH K. et al, 2014). 
•    Impactos indiretos – são mediados pelos impactos no ambiente; a curto prazo, decorrem as doenças infecciosas transmitidas por água, alimentos e vetores (por exemplo, o mosquito Aedes aegypti, que causa a dengue, zika, febre amarela e chikungunya) e as doenças respiratórias relacionadas à qualidade do ar. A longo prazo, há também doenças não transmissíveis como a desnutrição e estresse mental (YUSA et al, 2015, SENA et al., 2017).  

A situação climática específica do Semiárido brasileiro, junto a uma inadequada estrutura socioeconômica e política, leva a piores condições do que em situações de normalidade. Esses processos, quando prolongados, ampliam os danos econômicos e sociais, constituindo-se em ameaças que podem agravar o processo saúde-doença. As melhorias nas técnicas de monitoramento e previsão da seca permitirão incrementar as práticas e respostas de gestão, que reduzem as exposições aos riscos à estiagem e seus impactos imediatos na vida da população e no próprio setor saúde.

 

Bibliografia

  • CGEE. Desertificação, degradação da terra e secas no Brasil. Centro de Gestão e Estudos Estratégicos: Brasília/ DF, 2016. 252p
  • EBI Kristie. Health in the New Scenarios for Climate Change Research. Int. J. Environ. Res. Public Health 2014, 11, 30-46; doi:1
  • IPCC, 2014: Summary for policymakers. In: Climate Change 2014: Impacts, Adaptation and Vulnerability. Part A: Global and Sectoral Aspects. Contribution of Working Group II to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [Field, C.B., V.R. Barros, D.J. Dokken, K.J. Mach, M.D. Mastrandrea, T.E. Bilir, M. Chatterjee, K.L. Ebi, Y.O. Estrada, R.C. Genova, B. Girma, E.S. Kissel, A.N. Levy, S. MacCracken, P.R. Mastrandrea, and L.L.White (eds.)]. Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom and New York, NY, USA, pp. 1-32.
  • Kogan, F. N., 1995: Droughts of the late 1980s in the United States as derived from NOAA polar-orbiting satellite data. Bull. Amer. Meteor. Soc., 76, 655–668.
  • MARENGO, Jose A.; CUNHA, Ana P.; ALVES, Lincoln M. A seca de 2012-15 no semiárido do Nordeste do Brasil no contexto histórico. Climanálise, v. 3, p. 1-6, 2016.
  • McKee, T. B., N. J. Doesken, and J. Kleist, 1993: The relationship of drought frequency and duration to time scales. Preprints, Eighth Conf. on Applied Climatology, Anaheim, CA, Amer. Meteor. Soc., 179– 184.
  • McMICHAEL, A. J. Globalization, climate change and human health. New Engl J Med, 2013; 368(14):1335-43. doi: 10.1056/NEJMral1109341.
  • SENA, ADERITA ; BARCELLOS, CHRISTOVAM ; FREITAS, CARLOS ; CORVALAN, CARLOS . Managing the Health Impacts of Drought in Brazil. International Journal of Environmental Research and Public Health , v. 11, p. 10737-10751, 2014.
  • ______________. , Ebi, K. L., Freitas, C., Corvalan, C., & Barcellos, C. (2017). Indicators to measure risk of disaster associated with drought: Implications for the health sector. PloS one, 12(7), e0181394.
  • Smith, K.R., A.Woodward, D. Campbell-Lendrum, D.D. Chadee, Y. Honda, Q. Liu, J.M. Olwoch, B. Revich, and R. Sauerborn, (a)2014: Human health: impacts, adaptation, and co-benefits. In: Climate Change 2014: Impacts, Adaptation, and Vulnerability. Part A: Global and Sectoral Aspects. Contribution of Working Group II to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [Field, C.B., V.R. Barros, D.J. Dokken, K.J. Mach, M.D. Mastrandrea, T.E. Bilir, M. Chatterjee, K.L. Ebi, Y.O. Estrada, R.C. Genova, B. Girma, E.S. Kissel,A.N. Levy, S. MacCracken, P.R. Mastrandrea, and L.L.White (eds.)]. Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom and New York, NY, USA, pp. 709-754.
  • UNISDR, 2015. Making Development Sustainable: The Future of Disaster Risk Management. Global Assessment Report on Disaster Risk Reduction. Geneva, Switzerland: United Nations Office for Disaster Risk Reduction (UNISDR), 2015. Disponível em: <http://www.preventionweb.net/english/hyogo/gar/2015/en/gar-pdf/GAR2015_EN.pdf>. Acesso 25 fev. 2018.
  • YUSA, A.; BERRY, P.; CHENG, J.; OGDEN, N.; BONSAL, B.; STEWART, R.; WALDICK, R. Climate Change, Drought and Human Health in Canada. Int. J. Environ. Res. Public Health 2015, 12, 8359-8412; doi: 10.3390/ijerph120708359

Glossário

  • Vetor
    Ser vivo que pode transmitir parasitas, bactérias ou vírus a outro: Mosquitos são vetores de vários tipos de vírus. Fonte: Dicionário Caldas Aulete.
  • Percentil
    Cada um dos 99 valores em que se divide uma série em 100 partes iguais; CENTIL. Fonte: Dicionário Caldas Aulete.

Links