Projeto Harmonize mapeia impactos das mudanças climáticas na saúde durante expedição no Pará

Oficina

Mapear e identificar áreas vulneráveis ao aumento de doenças associadas às mudanças climáticas, realizar oficinas para gestores e estudantes e compreender o entendimento da comunidade sobre a influência do clima e ambiente no risco de doenças. Estas foram alguns das ações realizadas durante a expedição do projeto Harmonize Brazil no Pará, entre os dias 16 e 28 de setembro.  

As cidades de Mocajuba e Cametá concentraram as ações realizadas por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, INPE e Barcelona Supercomputing, Secretaria Estadual de Saúde do Pará (SESPA), integrantes do projeto, com o apoio de órgãos locais de saúde e meio ambiente.  

"As ações locais são fundamentais para entender a demanda e o uso das tecnologias desenvolvidas pelo Harmonize. Essas tecnologias visam auxiliar na prevenção e resposta a eventos de saúde sensíveis ao clima e às mudanças ambientais", destaca Cláudia Codeço, integrante da equipe do projeto e coordenadora do Sistema Infodengue do Programa de Computação Científica da Fiocruz (Procc/Fiocruz).

Para estudar os efeitos das mudanças climáticas na saúde da população local, são analisados dados de três origens: ambiental, climática e de saúde. Para a primeira, são utilizados drones e fotos, a segunda usa dados das estações meteorológicas e hidrométricas, e a terceira é baseada nas notificações dos diferentes Sistemas de Informação em Saúde. A partir do cruzamento desses dados é possível compreender a influência do clima e ambiente no risco de doenças localmente.

📸 Veja algumas imagens das atividades

Foram realizadas imagens aéreas através da utilização de drones, o que permitiu uma análise mais precisa da relação entre ambiente e saúde local, além de apoiar as atividades de cartografia participativa com gestores e estudantes durante as oficinas. "Essa abordagem inovadora  fortalece ações locais mais direcionadas e efetivas voltadas para a redução dos riscos à saúde.”, destaca Isabel Escada, do LabDrones do INPE.

As atividades de campo incluíram ainda novos contatos com comunidades quilombolas, além de entrevistas com moradores dos municípios visitados para identificar o conhecimento da comunidade sobre o impacto das doenças infecciosas na região, e como mudanças climáticas e ambientais podem influenciar nesses riscos. Essas informações coletadas em campo complementam os dados obtidos nos sistemas de informação em saúde utilizados rotineiramente.  

“Elas revelam aspectos contextuais que não podem ser capturados pelas bases de dados de saúde do país”, explica o coordenador do Observatório de Clima e Saúde da Fiocruz, Diego Xavier, que fez parte da equipe da expedição. Ele indica ainda que elas “contribuem para o desenvolvimento de intervenções mais específicas e direcionadas às comunidades frequentemente mais vulneráveis, como as populações ribeirinhas, indígenas e quilombolas".

Os dois municípios receberam novas estações meteorológicas, e Mocajubá passou a contar também com o monitoramento do nível do rio.

 

Ações complementares

A expedição incluiu ainda a instalação de armadilhas de vetores, visitas a bairros e localidades, sobrevoos para captura de imagens aéreas, descrição de paisagens para análise, entrevistas para meios de comunicação locais e reuniões com autoridades locais.  

Em Cametá foram visitadas as secretarias de Meio Ambiente e de Saúde, e foi traçado um plano de apoio e desenvolvimento para ferramentas e análises locais. Em Mocajuba, o grupo visitou a Coordenadoria de Endemias, que relatou a ocorrência de diversos casos de dengue hemorrágica no município. Também foram discutidas a repercussão das atividades anteriores e questões relacionadas à transmissão de doenças.  

A expedição marcou a entrega do policy brief “Amazônia em diálogo: construindo pontes em busca de soluções para os desafios das mudanças climáticas”. Elaborado em conjunto com lideranças de Mocajuba em 2023, o documento aborda os impactos das mudanças climáticas na região e sugere ações imediatas e propostas de políticas públicas para enfrentar os desafios ambientais que afetam a área.

 

Sobre o Harmonize Brazil

O projeto Harmonize, responsável por essa expedição, reúne uma equipe interdisciplinar de diversas instituições de pesquisa, com o objetivo de integrar dados climáticos, ambientais, socioeconômicos e de saúde para calibrar modelos de observação da Terra e analisar a transmissão de doenças em áreas sujeitas a mudanças climáticas.  

No Norte do Brasil, o projeto conta com a participação de representantes da Fiocruz (Observatório de Clima e Saúde/ICICT e Infodengue/PROCC), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (LabDrones/LISS e INPE-Belém), Secretaria Estadual de Saúde do Pará (SESPA), com apoio de órgãos locais de saúde e meio ambiente. O projeto é financiado pela Wellcome Trust e a atividade contou com a presença da Dra Rachel Lowe, PI do projeto.